quarta-feira, 4 de maio de 2011

A Ação Docente de Ensinar

DOCÊNCIA ALÉM DE SALA DE AULA
Adriane Leite Pires Bastos 
Cederj 2010

Aquele que escolhe como profissão ser professor, precisa estar comprometido com o resultado final de seu trabalho, sabendo-o como parte importante e imprescindível na  construção do indivíduo e, podemos ver isso claro na afirmação de Libâneo (1994, p.17):

“ O trabalho docente é parte integrante do processo educativo mais global pelo qual os membros da sociedade são preparados para a participação na vida social. A educação – ou seja, a prática educativa – é um fenômeno social e universal, sendo uma atividade humana necessária à existência e funcionamento de todas as sociedades.

Espera-se do educador que ele seja ingrediente básico para esta evolução, que compreenda como o seu trabalho cotidiano está ligado aos acontecimentos da sociedade no que diz respeito às perspectivas sociais, culturais e filosóficas.
Sua missão é ajudar o educando a construir seu próprio olhar de mundo, de sociedade, esclarecer e proteger o direito do aluno a uma identidade própria como membro ativo da sociedade. E essa identidade deve ser pelo aluno construída, para que seja a sua verdade, mas, para tanto, o papel do educador é fundamental na direção e na utilização das ferramentas para essa construção.
O professor deve reconhecer que existem diferentes níveis de independência e que os alunos saibam usar essa independência para construir o seu olhar. Há que se adequar o ensino à necessidade e ao meio em que vivem os alunos, já que a educação não pode ser um processo técnico-científico com inúmeras verdades, mas sim um processo de criação e construção do saber dentro de uma realidade coletiva e individual. É função do ensino o desenvolvimento da capacidade de pensar e a aquisição de instrumentos necessários à ação.
Somente conhecendo os interesses e necessidades dos seus alunos é que os professores podem criar situações de ensino que atendam às características de aprendizagem dos estudantes, e que garantam a eficácia do seu papel de educador, buscando variar constantemente as suas técnicas/métodos de ensino visando atender aos diferentes estilos de aprendizagem e, ainda, ser sensível às diferenças e respeitando as individualidades dos alunos.  É imprescindível que o educador se afaste do conceito da palavra aluno, sem luz, vendo-o com uma tábua rasa, sem qualquer conhecimento ou bagagem cultural, social.
Paulo Freire inicia Pedagogia da Autonomia expondo seus objetivos em analisar a prática pedagógica do professor em relação à autonomia de ser e de saber do educando. Enfatiza a necessidade de respeito ao conhecimento que o aluno traz para a escola, visto ser ele um sujeito social e histórico, e da compreensão de que "formar é muito mais do que puramente treinar o educando no desempenho de destrezas" (p. 15).
Em sua análise, menciona alguns itens que considera fundamentais para a prática docente, enquanto instiga o leitor a criticá-lo e acrescentar a seu trabalho outros pontos importantes. Inicia afirmando que "não há docência sem discência" (p. 23), pois "quem forma se forma e re-forma ao formar, e quem é formado forma-se e forma ao ser formado" (p.25). Dessa forma, deixa claro que o ensino não depende exclusivamente do professor, assim como aprendizagem não é algo apenas de aluno. "Não há docência sem discência, as duas se explicam, e seus sujeitos, apesar das diferenças que os conotam, não se reduzem à condição de objeto, um do outro. Quem ensina aprende ao ensinar, e quem aprende ensina ao aprender" (p. 25).
Uma das condições para ensinar os alunos a aprender para continuarem aprendendo vida afora é ajudá-los a tomar consciência do que sabem. Para tanto, é necessário que o professor não só acredite que os alunos têm conhecimentos e condições necessárias para aprender, como também deixe isso transparente em suas atitudes.
A interação dos alunos provocará um turbilhão de ideias e formas de aquisição dos outros conhecimentos inerentes a cada um do grupo. Para tanto, o educador deve considerar e valorizar as competências individuais pois,  a troca entre os saberes dos alunos promoverá uma aprendizagem muito maior. Deve então, ficar atento às experiências de todos. Em uma sala de aula, cada um tem uma história, vem de uma família diferente e tem uma bagagem única e especial de experiências culturais. Essa heterogeneidade deve ser amplamente valorizada, já que a turma não tem uma só identidade, mas é o resultado do conjunto das características de cada indivíduo. Ao formar grupos, é imprescindível saberes diversos. O papel do professor na divisão de classe para atividades em equipe é fundamental. Considerando muito mais do que afinidades e reunindo aqueles com conhecimentos diferentes e próximos, que têm a aprender e ensinar. Todos precisam atuar juntos para trocar as informações – aproveitar o que é diferente de cada um.
Criar um ambiente de aceitação pode garantir que se estabeleçam relações de confiança e respeito às diferenças e o cuidado com o outro. O professor precisa refletir sobre sua atuação para melhorar a auto-avaliação, que  é fundamental para ajudar a perceber fragilidades. Todos os dias, ocorrem situações que permitem repensar o trabalho em sala de aula e o contato estabelecido com a equipe e os alunos.
É importante colocar essas práticas em xeque: alcancei os objetivos? Em que preciso melhorar? Tendo isso claro, fica mais fácil buscar alternativas. Identificar e superar suas dificuldades. O primeiro passo para buscar mudanças é determinar  falhas. Investir no que pode ser aperfeiçoado. A educação é um processo que ocorre através de um vínculo de confiança entre o educador e o educando. Para evitar que se faça parte de um grupo que causa desconfiança, o educador deve refletir e repensar seu discurso.  Errou? Procurar mudar sua prática.
O bom professor é reconhecido como bom porque desempenha sua função com  profissionalismo. Com isso conquista o respeito de colegas e alunos – o que faz com que seja (e se sinta) valorizado num ciclo virtuoso.
A fim de acompanhar a modernidade deve-se estabelecer um modelo didático que facilite  mudanças. Há que se pensar numa construção feita a partir da experiência e da investigação dentro de uma visão andragógica, e porque não dizer heutagógica também. Essa construção requer ações fundamentais dos professores em sala de aula, quais sejam: despertar o interesse e a curiosidade do aluno; usar exemplos, fazendo conexões do conteúdo com a vida real e as experiências pessoais; estimular o desenvolvimento de estudos e pesquisas individuais e em grupos; utilizar métodos vivenciais de ensino como jogos, simulações, estudos de caso e laboratórios.
Uma margem razoável de desperdício de informação é inevitável em todo processo educativo. Falta de motivação, interesse, atenção, concentração, compreensão, etc, impedem que o conhecimento seja registrado e fixado. Por outro lado, existem mecanismos naturais de seleção: nem tudo interessa a todos, nem da mesma maneira, motivo pelo qual cada um seleciona e prioriza a informação que recebe. Diante disso é imprescindível adequar os meios aos fins.
Destacando-se a importância do papel do professor, um profissional atento ao seu grupo, as suas aprendizagens e suas dificuldades que se preocupa em buscar soluções, em se capacitar para intervir da melhor maneira possível, estimulando a autonomia do aluno, para que tenha capacidade de utilizar os conhecimentos escolares visando assimilar informações e procedimentos, bem como desenvolver o discernimento e a escolha da melhor maneira de resolver seus problemas ou a execução de novas tarefas.
Celso Vasconcelos destaca que, ao elaborar o planejamento, todo professor deve ter em mente que ele inevitavelmente será (pouco ou muito) modificado – mesmo que tenha boas reflexões sobre os três aspectos fundamentais: finalidade, realidade e plano de ação. “Isso ocorre porque os processos de ensino e aprendizagem são etapas distintas. A aprendizagem só ocorre quando são oferecidas condições de estudo para o aluno, com atividades que promovam um avanço contínuo e estimulante”, concluiu. (Revista Nova Escola, janeiro/fevereiro 2010).
Ou seja, o professor deve trabalhar em prol do aluno, adequando, adaptando e mudando sua proposta pedagógica conforme as necessidades, já que vivemos num mundo globalizado onde os conceitos e conhecimentos são velozes e diversos. A proposta é buscar artifícios e estratégias que aproximem cada vez mais os alunos entre si, a visão do aluno e do professor e o entendimento do aluno quanto a real necessidade de se aprender neste ou naquele contexto.
Contemplar uma proposta pedagógica pautada no respeito do indivíduo, na preservação de valores e na formação de cidadãos é uma luta constante.
Fernando Cassaro, Jornalista da Revista Nova Escola, expõe na edição de novembro de 2009 que, “na opinião de Theodor Adorno, o problema da Educação está no fato de ela ter se afastado de seu objetivo essencial que é promover o domínio pleno do conhecimento e a capacidade de reflexão. A escola, assim, se transformou em simples instrumento a serviço da indústria cultural, que trata o ensino como mera mercadoria pedagógica em prol da “semiformação”. Essa perda dos valores, segundo o autor, anula o desenvolvimento   da autorreflexão e da autonomia humana. Adorno acredita que a cultura da sociedade capitalista impõe um mecanismo de construção da heteronomia (ou seja, a sujeição do indivíduo à vontade de terceiros), fazendo o homem ser igual ao coletivo e perder, assim, sua individualidade. Sob esse ângulo, o indivíduo perde a capacidade de pensar e agir por conta própria e, consequentemente , de ser solidário e respeitar o próximo”.
Alcançar a qualidade não é uma tarefa fácil. Requer tempo e ações integradas. Mas, apesar de complexo este não é um trabalho solitário: com os colegas da equipe docente, o professor deve formar um verdadeiro time.
Para ser um professor eficiente não basta ter boa vontade. É preciso estudar muito e sempre, dedicar-se, planejar e pensar em diferentes estratégias e materiais para utilizar nas aulas. É preciso reforçar o saber específico que o profissional possui: o conhecimento didático e o controle das ferramentas pedagógicas, algo que se constrói não apenas na graduação, mas ao longo de toda a trajetória profissional.
    Na construção do conhecimento de base para ensinar, a formação acadêmica, as inúmeras influências, as observações, as vivências e as experiências cotidianas nos diferentes contextos por onde circula o docente, tudo é filtrado pelo seu saber de referência, ou seja, tudo é interpretado a partir dos enquadramentos culturais e teórico-metodológicos que o professor vai adquirindo e redimensionando, sendo estes os resultados da aprendizagem pessoal da base de conhecimento que se expressa a todo momento pelas representações pessoais e sociais dos professores e que vai-se construindo no processo do seu desenvolvimento pessoal e profissional.
     Baseados na sua formação continuada, de grande relevância para sua prática docente, nas suas experiências e conhecimentos particulares, à medida que desenvolve sua estrutura cognoscitiva, que vive a participação social e política (que dura a vida inteira, ininterruptamente), vai incorporando  os conhecimentos adquiridos durante essas vivências e mobilizando-os na realização do seu trabalho. Nesse processo de construção integral do indivíduo, a sua prática pedagógica processa-se em um contínuo, que vai oscilar entre: a consciência pratica e a consciência da prática.
     A consciência da prática como nível elevado de consciência ou elevado nível de compreensão da realidade, o sujeito da praxis tem plena compreensão do trabalho que realiza; conhece as implicações da sua ação na vida dos outros sujeitos que com ele vivencia o dia-a-dia na lide do trabalho diário, podendo, desta forma, transformar sua própria visão de mundo e consequentemente os rumos da sua ação num trabalho coletivo na perspectiva de uma prática pedagógica reflexiva.
     Prática pedagógica reflexiva ou prática reflexiva é outro conceito que o professor não pode ignorar se quiser melhorar sua prática docente. A prática pedagógica reflexiva é aquela enunciada por Freire (1975, p.9) “ninguém educa ninguém, como tampouco ninguém se educa a si mesmo: os homens se educam em comunhão, mediatizados pelo mundo”. Significa que o processo de conscientização desenvolve-se à medida que as pessoas, coletivamente, discutem, enfrentam e resolvem problemas comuns.
Este pensamento evidencia que, não há aprendizado quando o aluno não consegue utilizá-lo em outras situações do dia a dia. O aprendizado é reconhecido quando o aluno consegue resolver problemas, situações, iniciar uma conversa sobre um tema já estudado. O aluno precisa saber utilizar os conhecimentos adquiridos em situações rotineiras, do seu cotidiano. Quando isso não acontece, não é porque ele não sabe, esqueceu ou não prestou atenção, mas porque ainda não aprendeu.


“ Ao realizar suas tarefas básicas, a escola e os professores estão cumprindo responsabilidades sociais e políticas. Com efeito, ao possibilitar aos alunos o domínio dos conhecimentos culturais e científicos, a educação escolar socializa o saber sistematizado e desenvolve capacidades cognitivas e operativas para a atuação no trabalho e nas lutas sociais pela conquista dos direitos de cidadania. Dessa forma, efetiva a sua contribuição para a democratização social e política da sociedade” (LIBÂNEO, 1994, p. 33).


Os professores devem estar preparados para conceber e implementar alternativas e soluções pedagógicas adequadas diante dos problemas que surgem na aprendizagem de seus alunos nas salas de aula, até porque hoje temos na mesma sala diferenças culturais, sociais, étnicas e de experiências  onde é preciso trabalhar questões de violência e disciplina, preconceito e discriminação.
O sentido de ensinar fica óbvio, quando o  educando promove ações a partir do conhecimento recebido, ou seja, quando ele leva para fora da sala de aula a efetiva aplicação daquilo que  aprendeu. E, para tanto há a necessidade do professor ter a preocupação não somente, e nem tampouco, com o ato de “ensinar” e sim, estar voltado para o resultado da proposta educacional com forte estrutura para o sucesso individual e social do aluno.
O ensino não se resolve com um único olhar: exige constantes balanços críticos dos conhecimentos produzidos no seu campo (as técnicas, os métodos, as teorias) e isto demanda tempo, estudo, pesquisa e atualizações, ou seja, não se é professor somente em sala de aula, a construção maior deste professor está no que ele consegue captar e transformar em conhecimento.
Mas, acima de tudo edificar, montar estabelecer com a ajuda dos alunos e do corpo docente de que forma essa aula, esse conteúdo esse conhecimento deve ser transmitido e aproveitado.  Como diria Pimenta e Anastasiou, (2008) “ A aula não deve ser dada nem assistida, mas construída, feita pela ação conjunta de professores e alunos”.











  BIBLIOGRAFIA CONSULTADA


1 - BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O Que É Educação. São Paulo: Editora Brasiliense, 1981.

2 - CARRARA, Kester. Introdução à Psicologia da Educação, Seis Abordagens. São Paulo: Editora Avercamp, 2004.

3 - FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 11ª. Edição Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1982.

4 - ______________. Pedagogia da Autonomia. 39ª. Edição São Paulo: Editora Paz e Terra, 2009.

5 - ________________. Política e Educação. São Paulo: Cortez Editora, 1997.

6 - LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez Editora, 1990.

7 - PILETTI, Nelson. Psicologia da Educação. 13ª. Edição São Paulo: Editora Ática, 1995.

8 - PILETTI, Claudino. Didática Geral. 7ª. Edição São Paulo: Editora Ática, 1986.

9 - PIMENTA, Selma Garrido, ANASTASIOU,  Léa das Graças Camargos. Docência no Ensino Superior. 3ª. Edição São Paulo: Cortez Editora, 2008.





WEBGRAFIA


1 - ANTUNES, Simone Fraga Freitas, JUNGBLUT, Cesar Augusto. “O Papel do Professor e as Dificuldades de Ensinagem”. IN http://www.gestaouniversitaria.com.br/ edicoes/133-171/638-o-papel-do-professor-e-as-dificuldades-de-ensinagem.html. Visitado em 18/02/2010.
2 - CARVALHO, Marlene Araújo de. “A formação de professores e os fundamentos da ação  docente”. IN http://www.ufpi.br/mesteduc/eventos/ iiencontro/GT-1/GT-01-04.htm. Visitado em 15/01/2010.
3 - JANUARIO, Paula Cancella. “Formação de formadores: o docente do ensino superior é um profissional da educação”. IN http://www.filologia.org.br/soletras/13/05.htm. Visitado em 23/12/2010.
4 - RAZZA, Neuza. “Trabalhando com Alunos: Subsídios e Sugestões, o desafio de ensinar a aprender para continuar aprendendo”, Revista do Projeto Pedagógico. IN http://www.administradores.com.br/artigos/o_dificil_ caminhar_ do_ensinar_e_aprender_neuza_razza_pedagoga/31482/. Visitado em 18/02/2010.

5 - SANTANA, Danielle. “A ação docente na educação superior”. IN http://www.webartigos.com/articles/4670/1/A-Acao-Docente-Na-Educacao-                       Superior/pagina1.html

6 - SANTOS, Sandra Carvalho dos. O processo de ensino-aprendizagem e a relação professor-aluno: aplicação dos “sete princípios para a boa prática na educação de ensino superior”. IN Caderno de pesquisas em administração, São Paulo, v.08, nº 1, janeiro/março 2001. Visitado em 18/02/2010.
7 - TORRES, Rosa Maria. “ Ensinar e aprender: duas coisas diferentes ” –http://www.redemulher.org.br/espanhol/rosa.htm . Visitado em 18/02/2010.